
O Onzeneiro enriqueceu à custa dos altos juros, que emprestara aos necessitados – um antepassado dos nosso modernos penhoristas, a quem o Diabo chama, com toda a propriedade, seu “parente”. Apresenta-se com um bolsão que ocupa quase toda a barca. O Onzeneiro informa-nos que vai vazio, certamente porque não pudera trazer com ele todo o dinheiro que deixou escondido no fundo de uma arca. Mas é só neles que pensa e chega a pedir ao Diabo que o deixe voltar ao mundo para ir buscá-los. Mas ali, no espaço para além da vida, apresenta-se tão pobre sequer dispõe de uma moeda para pagar ao barqueiro.
Mario Fiúza (adaptado)
Repara no seguinte poema de Bocage:
Velho avarento
Levando um velho avarento
Uma pedrada num olho,
Pôs-se-lhe no mesmo instante
Tamanho como um repolho.
Certo doutor, não das dúzias,
Mas sim médico perfeito,
Dez moedas lhe pedia
Para o livrar do defeito.
“Dez moedas! (diz o avaro)
Meu sangue não desperdiço
Dez moedas por um olho
O outro dou eu por isso.”
Agora, tenta encontrar semelhanças entre a intenção crítica de Gil Vicente ao criar a personagem Onzeneiro e este poema de Bocage.
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