Língua Portuguesa - 9º ano

Olá! Aqui podes encontrar algumas curiosidades, textos informativos e exercícios sobre a matéria de Língua Portuguesa (9ºano). Sempre que considerares pertinente, comenta os textos. Espero que te seja útil. Bom estudo!

9 de março de 2010

A ALCOVITEIRA


A alcoviteira é um dos tipos mais interessantes do teatro vicentino. Estas mulheres dedicavam-se a desencaminhar mulheres casadas e solteiras e a lançar rapariguitas na prostituição. Como esta profissão estava proibida por lei, para não caírem na alçada da justiça, fingiam que se dedicavam a bordar e a fabricar perfumes e cosméticos. O povo tachava-as de bruxas ou feiticeiras.

É o tipo que nos aparece, neste auto, com mais elementos distintivos e caracterizadores. É um autêntico carregamento deles: além das moças que prostituía, transportava consigo seiscentos virgos postiços, jóias e vestidos roubados. Para poder montar o negócio no outro mundo, levava ainda uma casa movediça, um estrado de cortiça e dez coxins.

A linguagem que a Alcoviteira emprega, nomeadamente com o Anjo, funciona também como elemento distintivo. Trata-se de uma linguagem repleta de termos carinhosos, embora empregados hipocritamente. Seria certamente com esta lábia que ela conseguia atrair as jovens à chamada vida fácil.

A defesa arquitectada e posta em prática pela alcoviteira revela mentira, hipocrisia, descaramento. Considera-se uma mártir por ter sido açoitada diversas vezes e compara a sua missão à dos apóstolos. Chega até a afirmar que converteu mais moças do que Santa Úrsula, que nenhuma delas se perdeu e que todas se salvaram.

O tipo está bem caracterizado mas Gil Vicente critica a prostituição e os seus agentes muito superficialmente.


Mário Fiúza


8 de março de 2010

HISTÓRIA DA LÍNGUA PORTUGUESA

Quando contactas com a obra de Gil Vicente, reparas, certamente, que a língua que ele utiliza é bem diferente da que tu conheces e aprendes.

Embora se trate da Língua Portuguesa, é a utilizada no século XVI; daí que, decorridos tantos séculos, tenha sofrido algumas alterações.

A ORIGEM – O LATIM

Temos de recuar até à época da expansão do Império romano, pois o latim era a língua utilizada. Dele derivam o português e as chamadas línguas românicas: o português, o castelhano, o francês, o italiano, o romeno… que surgiram da mistura entre o latim e os idiomas falados nas diferentes regiões europeias conquistadas pelos romanos.

O latim apresentava diferentes variedades e registos linguísticos:

· o latim vulgar, falado pelo povo (soldados, comerciantes, funcionários, etc.);

· o latim culto, usado pelos escritores e falado nos discursos do Fórum.

Como as conquistas dos Romanos foram levadas a cabo pelos legionários, gente inculta e na sua maior parte iletrada, o latim que se impôs nas várias províncias foi o latim vulgar.

INFLUÊNCIAS DE OUTROS POVOS

Por volta do século V d.C., os povos germânicos (Visigodos e Suevos) invadem a Península Ibérica, mas aceitam a língua e a cultura existentes. Porém, muitas palavras, sobretudo dos Visigodos, penetraram na língua que aí se falava (exs: vassalo, elmo, guerra, raça, luva, Ricardo, orgulho, barriga…).

Em 711 dá-se a invasão árabe e, em muito pouco tempo, os Árabes ocuparam toda a Península Ibérica. A sua cultura é superior à dos Visigodos e, por isso, a sua língua deixou marcas maiores na nossa ao nível do vocabulário (exs. azeitona, laranja, açúcar, algodão, alfarroba, alferes, tambor, álgebra, algarismo, alambique, azulejo…).

O VERDADEIRO NASCIMENTO DA LÍNGUA PORTUGUESA

No Noroeste peninsular, da evolução do latim nasce, ao nível oral, o galaico-português, língua falada, a partir dos finais do século IX, na Galiza e no norte de Portugal. Mas o latim continuava a ser usado como a única língua escrita, nos documentos jurídicos, pelo clero e pelos nobres.

Após a conquista da nossa independência nacional, em 1143, inicia-se um processo linguístico no sentido da autonomização progressiva do falar do povo Entre Douro e Minho (condado Portucalense) em relação ao falar da Galiza.

No século XIII, D. Dinis dá um impulso ao desenvolvimento da nossa língua ordenando que, daí em diante, passassem a ser escritos em português todos os livros e documentos.

INFLUÊNCIAS POSTERIORES

· África: missanga, macaco, banana, samba, tanga…

· Ásia: leque, chá, chávena, soja, biombo…

· América: ananás, piroga, canoa, cacau, chocolate, batata…

ESTRANGEIRISMOS (adopção de vocábulos de outras línguas adaptados à fonética da língua portuguesa)

· Francês: boné, chefe, blusa, duche, gravata…

· Espanhol: bolero, tejadilho, sapatilha, sangria…

· Inglês: bife, futebol, bar, ténis, líder…

· Italiano: piano, maestro, saldo…

A língua vai continuando a enriquecer-se com a criação de novos vocábulos – neologismos – necessários para designar novas realidades.

7 de março de 2010

EVOLUÇÃO FONÉTICA

Identifica e classifica os fenómenos fonéticos ocorridos nas palavras que se seguem na evolução para o português.

1. Legere > leger > leer

2. Persona > persoa > pessoa

3. Vidi > vii > vi

4. Rege > ree > rei

5. Dolore > doore > door > dor

6. Fidele > fiele > fiel



Soluções:

1. Apócope do e > Síncope do g > crase dos ee;
2. síncope do n > assimilação do r ao s;
3. síncope do d > contracção dos ii por crase;
4. síncope do g> contracção por sinérese dos ee;
5. síncope do l > apócope do e> contracção dos oo por crase;
6. síncope do d> apócope do e;

O SAPATEIRO (João Antão)


Tendo roubado, o povo, durante trinta anos, surge no cais um Sapateiro, identificável pelo avental e pelas formas que transporta. O protagonista faz referência ao facto de ter cumprido rigorosamente os preceitos religiosos, mas todos os seus argumentos são destruídos pelo Diabo que o acusa de ter sido desonesto.

O seu comportamento religioso transforma-o numa personagem com uma representatividade mais ampla, englobando todos aqueles que julgam ser a prática do culto externo – missa, confissão e comunhão – suficiente para a sua vivência de fé, mesmo que vivam de forma desonesta.

O avental e as formas são elementos distintivos e caracterizadores do seu tipo socioprofissional, para além de servirem como “elemento de prova” no julgamento divino.

O carácter moralista desta cena é reforçado se verificarmos que a condenação da personagem assenta mais na ausência de uma vida moral em conformidade com os preceitos religiosos do que nos roubos praticados.